Sempre usei cuecas e soutiens desemparelhados. Sou extremamente criteriosa com as cuecas, talvez mais até do que com os soutiens, a cor - porém - nunca foi um dilema. Fui fiel a um determinado modelo durante muito tempo. Estou oficialmente a divorciar-me das minhas cuecas.
A nossa relação correu bastante bem, tão bem que ainda guardo algumas delas para aqueles dias do mês em que só me sinto confortável com uma cueca até ao pescoço. Não eram as mais giras, nem as mais decotadas, mas eram bastante cómodas. Não saíam do lugar e "empurravam" a barriga meio centímetro p'ra dentro. Apesar de tudo, as coisas foram ficando mornas com o tempo. De repente dei por mim a pensar em conjuntos e cenas matchy-matchy. Quem é que nunca acordou com o desejo de se sentir uma actriz de novela com a cueca e o soutien a fazer pendant? Quando uso um conjunto sinto que a vida doméstica se encaixa todinha. Os conjuntinhos estão a tornar-se na minha nova mania, um guilty pleasure que talvez tenha feito mais sentido com a i-d-a-d-e whatsoever.
Continuo a usar peças desemparelhadas claro. Não acho grave, mas sinto-me bastante melhor quando as consigo combinar, confesso. Tive dúvidas, claro. As dúvidas que todos os cortes com algo estabelecido implicam. Suspeitava que esta fase, mais monocromática, fosse o anúncio de uma existência menos rebelde. Na casa das minhas avós só se combinavam cuecas e soutiens quando era para ir ao médico. Um peso que nunca coloquei na roupa interior. Não sinto que isso tenha acontecido. Os conjuntos trouxeram-me liberdades das quais eu pretendo usufruir. A lingerie - como todas as outras coisas - também é uma forma de comunicar. Desejos, aflições, inseguranças.
Tal como acontece com os soutiens, há imensa gente a usar as cuecas erradas. Imensa. Embora as cuecas perdam protagonismo para os soutiens, elas podem ser muito impiedosas. A grande dificuldade, como sempre, é adaptar o tamanho ao corpo e depois disso, o modelo à roupa. Eu tenho várias opções que adapto conforme o que vou vestir, o momento do dia e o estado de espírito. A nossa lingerie, tal como a nossa roupa, também está associada a fases, momentos e às vezes até pessoas. Não tenho dúvidas que o valor patrimonial do nosso guarda-roupa é um resumo do que somos.
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