Antes de utilizar soutiens em tecido, eu só conhecia as opções acolchoadas que as lojas fast fashion vendiam. Como o meu peito sempre foi pesado, eu sentia-me - julgava eu - "mais ou menos segura" com o acolchoado. Sempre gostei de soutiens coloridos. Cheguei mesmo a ter um soutien amarelo-espanta-espíritos, uma cor pouco comum na roupa interior. Os básicos nunca me chamaram a atenção. Nunca me incomodei com os escuros por debaixo das roupas claras, nem com as costuras nem com as rendas por debaixo das roupas justas. Continuo a não me incomodar. A minha paixão pela lingerie sobrepõe-se. Depois do conforto, eu quero divertir-me. Ao contrário das mulheres que se sentem presas quando vestem um soutien, eu sinto-me livre.
"Gostava de as ver redondas, pujantes, viçosas e o tecido - achava eu - não me dava isso"
O 1º contacto que estabeleci com o aconselhamento especializado de lingerie aconteceu pouco antes dos 30. Na minha 1ª sessão como cliente, a fitter que me estava a orientar disse que eu não andava longe do que era recomendado. Well done girl, well done. Sempre gostei de fazer experiências com roupa e lingerie. As flutuações de peso são uma boa escola. Embora pareça um exercício difícil sob determinadas circunstâncias, conhecer o nosso corpo é uma óptima ferramenta. Apresentaram-me nessa altura os soutiens em tecido, mas não cedi. Gostava de as ver redondas, pujantes, viçosas e o tecido - achava eu - não me dava isso.
Até que engordei. Outra vez. MUITO. A espuma começou a agoniar-me. Sempre que vestia um soutien sentia que faltavam poucos centímetros para o peito tocar no nariz. Foi então que optei por soutiens em tecido. Não foi amor à primeira vista, confesso, foi necessidade. E tentativa. Continuo fiel a eles, mas à bem pouco tempo, voltei a apostar num modelo em espuma. Tenho ambas as texturas e utilizo-as conforme aquilo que pretendo e como me sinto. É uma relação totalmente compatível, embora durante muito tempo eu tenha pensado que não. Aconteceu o mesmo com as cuecas e é fácil perceber porquê. O princípio do fitting é este: as peças têm de estar ajustadas ao nosso corpo (forma e proporção). Se o nosso corpo muda, as peças também têm de mudar.
"A nossa relação com a lingerie não é linear. Não temos de ser fiéis a um estilo, a uma cor, a um modelo"
Decidi partilhar esta experiência mais pessoal convosco para vos deixar a pensar numa coisa: (o nosso corpo não é estático e) a nossa relação com a lingerie não é linear. Não temos de ser fiéis a um estilo, a uma cor, a um modelo. A prova - uma experiência que vos é negada em muitos espaços e no atelier da Colchete não - serve exactamente para isso, para vocês se conhecerem e se deixarem surpreender.
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